terça-feira, 2 de junho de 2009
Humor mórbido
O elevador finalmente chega, cheio. Pessoas conversando, rindo. Satisfeitas. Fim do expediente. Lotação máxima: 8 pessoas, 640 quilos. Ninguém parece notar a presença dela. O que sente a obesa mórbida dentro de um elevador, tão pequeno, eu não sei. Nunca saberei. Para ela existem as escadas, mas se as utilizasse certamente não teria esta forma. Deformaria-se em peles frouxas criando feridas, que ela esconderia com panos coloridos e seu sorriso amável. Esconderijos, ela os conhece bem. Mas eu nunca saberei o que a obesa mórbida sente num elevador lotado. Ela tampouco compreende o riso de seus colegas. De que riem, dela? Sente-se inconveniente, “que dia, hein?”, e todos riem. Tenta alcançar o botão, mas o braço parece não ter força para sustentar-se. A dor nas costas impede o corpo de esgueirar-se, ela desiste. Ninguém repara na obesa mórbida, incapaz de pedir uma gentileza. Térreo: todos descem, menos ela. Sozinha na cabine, ela se aproxima do painel e aperta o botão da sobreloja. A boca aberta, demente. Dispneia. Há tempo de sobra para uma ou duas lágrimas, até o reabrir das portas.
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