Desde sempre Ana Clara soube que seus pais não eram seus, mas preferiu ficar calada porque ah!, difícil, tão difícil. Uma preguiça aguda. Desde sempre ela soube de muitas dessas coisas que ninguém desconfia. Uma menina especial, tão órfã! O que seria de mim sem meus pais de mentira? Seria uma coisa qualquer, como hoje, mas diferente. Sem previsões futuras. Cousas futuras, como diria Aires. Ora, cousas futuras não nos pertencem. Tampouco um passado de poderia-ter-sido. Preguiça, preguiça agudíssima de previsões, de bla-bla-blás. É tanta metafísica, tantas leis que regem este mundo anárquico que nem sei. Melhor contentar-me com o que tenho, estes pais de mentira. Desde sempre soube. Uma nuvem de poeira cobrindo um passado remoto, de sair do berço. Um espasmo no coração, sempre sentia. Ana Clara era nome de desde quando? Preguiça de saber, ser era coisa distante, cousa futura... Desde já, preguiça.
A carne na panela começa a queimar, Ana Clara ouve o barulho que o fogo faz. Apressa-se, desliga o fogo. Desliga logo o gás. Nunca se sabe do que essa gente é capaz.
A carne na panela começa a queimar, Ana Clara ouve o barulho que o fogo faz. Apressa-se, desliga o fogo. Desliga logo o gás. Nunca se sabe do que essa gente é capaz.
Imagem: Elijah James
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